quinta-feira, 29 de abril de 2010

3- Eros e Eris

Seguindo um movimento próprio do movimento que aqui se anuncia como texto, achei mais seguro continuar escrevendo sobre ele mesmo para fechar um ciclo e o mês. Uma faceta dele que encontrei estudando os gregos, na mitologia, na Teogonia (que é também uma cosmogonia) narrada por Hesíodo. Teogonia porque narra o nascimento dos deuses (Teo= deuses; gonia=geração) e que, no princípio, deuses e natureza, eram para os gregos indivisíveis. A mitologia grega nasce como, então, uma cosmogonia e teogonia ao mesmo tempo.

E é nessa narração da origem de tudo que descubro uma coisa interessante. Eros. Depois do Caos e da Terra (Gaia) o terceiro deus que nasce é Eros. Mas Eros não é o amor ainda. Eros é o movimento. É o princípio motriz que gera, aquilo que impulsiona. Segundo Hesíodo: "Eros, o mais belo entre os deuses imortais, que amolece os membros e sujeita no peito o entendimento e a vontade consciente". E entendo com isso, no contexto da cosmogonia, aquele sopro de vida que amolece a matéria e a molda e que, na desordem das formas do caos e do sentido, começa a dar um significado e uma ordem para as coisas. Interessante essa primeira denominação de Eros. Se pensarmos bem, é isso também que estará como matéria em toda a questão amorosa. Que ser não é movido quando o amor o ataca e sopra em seu ouvido um sentido, uma forma? Podemos dizer que amor é, antes de tudo, movimento. Movimento da vida e que gera a vida.

Ainda na Teogonia encontramos outro exemplo. Na disputa entre os deuses, Cronos deve arrancar o sexo de seu pai (Urano, Céu) que o impede de nascer e, assim, separar Terra (Mãe) e Céu (Pai). Do corte, do sêmem de Urano jogado na terra e no mar, nascerá novos deuses. Afrodite que nasce no contato com as espumas das ondas do mar. As Erínias em contato com a terra. Estas representam o ódio, a vingança, a discórdia (Eris). A outra, o amor. Não é mero acaso a semelhança das palavras. Elas nascem de um gesto amoroso, amor pelo nascimento e pela liberdade de Cronos, mas também nascem através de um gesto de traição, do ódio de Urano, de sua vingança e sua discórdia. As Erínias, representam aquelas que se vingam de qualquer traição e de qualquer ação contra à ordem. Por isso são temidas por todos os deuses e homens. Quando algo vai de encontro à lei natural é o nome das Erínias que os gregos evocam. Na tragédia de Ésquilo, são elas que acusam Orestes por matar sua mãe. Elas protegem o sangue, o nascimento e a morte em sua ordem natural. Agradecidas pela manutenção da ordem, são as "Benevolentes". Contrariadas, são as Erínias, as "Iracundas". Não é de se espantar também que é tênue a linha que separa Eros de Eris...às vezes é apenas uma espuma (afros em grego quer dizer espuma...). Talvez o pacto entre o amor e o ódio se dê mesmo no proprio nascimento.

E aí, é um outro tipo de movimento, muito particular, que Eros e Eris seguem...movimento que condena a cada um ser como é....no tempo devido de seu movimento...

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