sexta-feira, 13 de agosto de 2010

13- Palavras como poeira...

Continuo a fazer as minhas leituras habituais, aquelas que programei já a um tempinho. Os Diálogos de Platão, a Ilíada de Homero, a Metafísica de Aristóteles, continuo nessa aventura que é descobrir um mundo antigo, o mundo grego, e trazer dele ainda muito sentido. Trago também muitas diferenças, muitas inquietações de como o homem mudou e de como, também, o homem continua o mesmo. Mas são inquietações que ainda não merecem ainda palavras precisas. E, convenhamos, já falei um bom tempo sobre os gregos por aqui. E já ficou chato, né? Bem, o negócio é o seguinte. Não tenho a menor ideia do que escrever, não vim com nenhum propósito, não tenho inquietação nenhuma, nem deslumbramentos.

Isso é também importante. Mesmo aqueles de alma inquieta e encantada gostam também de um período de marasmo total, sombra e água fresca, uma vista para o mar e nada para pensar. Não? Eu gosto. Ultimamente ando sendo tocado por uma certa serenidade. Um olhar um pouco mais complacente comigo mesmo, um vagar contínuo sem sustos e assombros, mas que mantêm a sua profunda forma de observar o movimento do mundo e o seu silêncio. Nunca tive uma semana tão serena e exemplar. Gostei dela. Mas também não vou gostar muito que ela fique se repetindo. Ora bolas, chega uma hora que até o exemplar cansa.

É engraçado isso de querer dizer as coisas. Escrever é uma eterna danação. Como é mesmo tolo isso de querer sempre se comunicar, né? Tem verdades que só podem ser sentidas e digeridas no silêncio.Porque a sensação que tenho é que não me aproximei nem um pouco do sentimento de serenidade que me atingiu durante essa semana. Ou pode ser isso também, posso estar tão feliz comigo mesmo que não sei ainda existir e me comunicar dentro dessa felicidade. Ou isso: a felicidade pode ser sem graça pacas. Ou isso: a felicidade talvez não tenha nada para ensinar. Será? Talvez eu é que não saiba tirar nada dela. E isso pode ser uma mentira também. Será isso a felicidade? Quando a gente encontra a felicidade a gente sabe que a encontrou? Beija e toca? A ama e quer fazer amor com ela? Mas quem disse que estou feliz? Será só isso, uma serenidade... E me lembro tanto da Clarice novamente...

Esse, sem dúvida, é um texto para ler e esquecer. Nada de significante para se reter. Sei disso, mas é também como a vida. E mesmo assim é um exagero querer comparar esse texto sem significância ao nada da vida. E fico me perguntando se realmente vale a pena escrever quando não se tem nada a dizer. Aumentando ainda mais a profusão de tagarelice, de contradições, de disparates que, como um turbilhão, a mídia nos lança. Mais um post, mais uma página. Para nada. Mas me decidi a escrever alguma coisa. Sem preparo, sem revisão. Seco e cru. Um texto para se engolir a seco. Sem água. Um texto desértico. Onde o leitor deseja escapar para não morrer de fome e de tédio. Palavras como poeira...

Um comentário:

  1. Uau, que diálogo. Valeu!

    e vale a pena, sim, como vale! o texto ficou ótimo. e vc conseguiu o que queria: mudar a forma e o tema!

    Obrigada pelo texto... desértico...

    e a serenidade é mesmo um tédio. vc desvendou tudo! a culpa é da serenidade! não sei conviver com ela, depois de ter passado várias etapas da minha vida "a todo vapor"!

    Beijos e parabéns!

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